31 de julho de 2004

31 de Julho

No dia 31 de Julho de 1769, em Lisboa, foi criada uma fábrica real de cartas de jogar. Nesse dia, mas em 1925, a Inglaterra legislou, pela primeira vez, sobre Segurança Social no Desemprego. Em 1933, na Alemanha, o partido nazi ganhou as eleições para o Reichstag. No ano passado, nascia A Quinta Coluna.

29 de julho de 2004

ninivitas

Fui ver os evangélicos Ninivitas ao Santiago Alquimista. Foi uma noite muito bem passada e em boa companhia.
Os rapazes ofereceram um concerto bem disposto, com músicas originais e bem tocadas, num ambiente/assistência familiar (família deles, claro - e "família" no bom sentido da expressão...). Pérolas como Faz-me Bem A Mim E Mal Ao Demónio («quando a minha fé fica fraca / corro a ler o Padre António / faz-me bem a mim / e mal ao demónio»), Fado Barrabás, Quando Sangro do Narizquando sangro do nariz / muda logo o meu futuro / o nascimento dos meus sonhos / morre de parto prematuro // e eu não sei o que é maior / se o sangue que verto / se o medo que sinto»), Quis Ser Jornalista («quis ser crítico de arte/ e até entrei p´rá faculdade / para aprender o ofício da profissão / mas eles só queriam criticar / e eu não / eu não quero criticar nada»), Fado Dos Olhos Abertos («quando elogio a castidade / e critico o adultério / ninguém me leva a sério // quando piso a bandeira / e renego o império / ninguém me leva a sério») e O Senhor Feijão mereciam ser editadas em formato ninivita, mais rockeiro do que o que está editado. Infelizmente não tocaram o meu hit de estimação, Aninha-te No Meu Colo, Gato. Mas não me posso queixar muito: tive direito a dois cd's do Tiago Guillul que já tocam insistentemente no meu autorádio, a evangelizar a 2ª Circular e pelo IC 19 fora. Infelizmente, não consegui o do Samuel Úria. Fica para a próxima.
Cercado por morenas, reparei no entanto numa jovem lourinha, muito jeitosa, sentada na primeira fila, na mesa fontal ao palco. E ainda dizem que não sou ecuménico.

28 de julho de 2004

 
Na última edição antes de Setembro, a TdA discorre sobre a culpa e o livre-arbítrio, Job e a incerteza, Nuno Teotónio Pereira - cidadão e arquitecto, e se Deus morreu ou apenas foi de férias.



26 de julho de 2004

Meu caro amigo João Mendes Cruz,
o seu prolongado silêncio deixa-me apreensivo. Fico deveras preocupado com o seu estado de saúde. Penso que ainda não deixou a clínica (caso contrário, creio que teria tido notícias suas), mas que se encontra impossibilitado de expedir as suas cartas - que eram um fôlego ímpar para estas pobres Partículas.
No entanto, surge no meu pobre espírito uma outra ideia, um pensamento terrível: talvez o meu amigo João Mendes Cruz pense que está melhor de saúde e assim, com o egoísmo característico das pessoas saudáveis, deixe de nos comunicar a sua lúcida e indispensável visão do mundo. Essa forma de doença - a mais subversiva de todas -, que é o pensarmos que estamos saudáveis, torna-nos pessoas com uma auto-estima ridícula, de uma boa-disposição insuportavelmente irritante, e com um estúpido alheamento do que de (pouco, é certo) importante há nesta vida: a dor, o sofrimento e a angústia, que tentamos inutilmente vencer.
Por favor, diga-me alguma coisa para este mail. A blogolândia precisa do João Mendes Cruz, tal como Portugal precisa de um Santana Lopes ou o mundo da espiritualidade new-age: não importa o que seja, importa é que apareça e nos ilumine.
Um abraço e as suas melhoras - mas não em excesso.
O seu camarada na doença,
CC

23 de julho de 2004

já não oiço a guitarra

22 de julho de 2004

a obra ao negro

Decidi encetar a minha carreira de escritor. Como não tenho imaginação, criatividade e talento para escrever uma obra original, resolvi copiar obras que, já tenho lido, gostei bastante.

Na arte, a inovação tem um valor bastante relativo. Em grande parte dos casos, o critério de qualidade de uma obra prende-se com o momento em que foi feita. Ou com o tema que retrata, ou com o próprio acto de execução da obra. Isto é válido para as chamadas artes plásticas, mas também se pode aplicar à literatura.
Peguemos num génio da pintura, um daqueles incontestáveis. Picasso, por exemplo. Se hoje alguém pintar à maneira de Picasso, com representações geométricas da realidade (arlequins bidimensionais sentados em mesas de cafés, gajas nuas e toscas num bordel qualquer, rostos onde um nariz anguloso fica por cima de um olho torto, etc.), com "fases" de cores apaneleiradas (azulinho e rosa), já ninguém liga. É mesmo impossível um consenso sobre a qualidade de tal obra - enquanto se se soubesse que ela tinha mesmo sido feita por Picasso, ganharia imediatamente um valor absurdo e seria adquirida num leilão inglês por algum excluído social.
Na literatura a situação é semelhante. Podemos hoje escrever belas cantigas de amigo, formalmente perfeitas, que ninguém liga. «Ai flores, ai flores do verde pinho / se sabedes novas do meu amigo / ai deus, e u é?». É u é o quê? Literatura gay e light, é o que é! Ainda por cima não venderia nada.

Assim, escrevi já algumas obras consagradas de autores contemporâneos. Ontem acabei o Memorial do Convento. Já tinha escrito há uns meses A Morte de Carlos Gardel e as Memórias de Adriano. Também escrevi este ano a Desgraça (sim, não foi só o Coetzee...), A Tábua de Flandres e As Velas Ardem Até Ao Fim. No ano passado escrevi As Partículas Elementares, As Núpcias de Cadmo e Harmonia (este deu-me um trabalhão!), Cem Anos de Solidão, Outono na Sertã, Extinção, Um Deus Passeando Pela Brisa da Tarde e Casei com um Comunista.

Creio que estou perto de ganhar o Nobel. Já escrevi mais e melhores livros que muitos "escritores" que andam por aí.

20 de julho de 2004

37 anos

Salvé o dia 20 de Julho de 1967.
Parabéns, miúda.
 



  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  

19 de julho de 2004

ao sol a atitude é diferente

Este é o blog mais bonito da blogolândia.

16 de julho de 2004

dignitas

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
 
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
 
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
 
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não. 
 
Sophia de Mello Breyner Andresen
 

José Pacheco Pereira é um homem íntegro e de palavra, coisa a que antigamente se dava valor. A palavra, a honra, era aquilo que de mais íntimo se podia obter de um homem, o expoente da confiança que cada um.
Hoje não. Hoje o dinheiro, a carreira, o sucesso, os pequenos poderes são os objectivos únicos da vida – mesmo das vidas de quem supostamente se dedica à coisa pública. Com a ambição promovida a valor social, a luta por estes objectivos, infantis e tacanhos se não em função de outros mais vastos, transforma-se num terreno perigoso, sem regras, onde é difícil sobreviver sem cair no lodo.
A actividade nobre que era a Política, o serviço dedicado ao bem comum, foi submetida aos interesses pessoais e mesquinhos de quem passa pelos partidos do poder, hoje transformados em simples agências de empregos, de que são aqueles seus sócios ou gerentes.
O caso das juventudes partidárias, esses liceus de intriga e da submissão acrítica, são um bom exemplo da degradação a que chegou a actividade política em Portugal. Porque é aí que se formam aqueles que, mais tarde e em função do seu grau de servilismo ao líder do momento, vão conseguindo uns lugarzinhos que o seu partido tem para oferecer: nas concelhias, nas distritais, numa autarquia, numa empresa pública, num instituto, numa chefia de gabinete, numa secretaria de Estado, etc. E, como numa moderna empresa de venda de cosméticos, vão, de degrau em degrau, sendo acompanhados por um séquito de outros como eles outrora foram e ainda são: abutres à espera de oportunidade, parasitas da ganância dos outros, capazes de tudo por subir mais um degrau na escada partidária.
 
Neste contexto, a atitude, coerência e integridade de Pacheco Pereira - para não falar na superior inteligência, ampla cultura e saber renascentista – assustam aqueles que, pelo menos, têm a consciência da sua própria mediocridade. Os que ganham a vida (literalmente, porque raramente ganham dinheiro fora da política) em jogos de bastidores, a derrotar lícita ou ilicitamente adversários internos; os especialistas na gestão das fraquezas humanas e no uso da mentira como arma de divisão e domínio; os que aprenderam a saborear os frutos da hipocrisia e do cinismo; os que vão, de jogo sujo em jogo sujo, de ameaça em ameaça, com muitas facadinhas nas costas dos que atravessam no seu caminho, subindo na hierarquia das estruturas partidárias; os que têm medo de (deba)ter ideias, porque isso pode prejudicar a sua "carreira"; os populistas que fogem dos confrontos sérios e limpos; os demagogos que não sabem pensar; esses assustam-se com a hombridade dos homens rectos, como Pacheco Pereira.
Porque Pacheco Pereira, que não se verga em troca de missangas, que despreza mordomias a que os outros dão tanto valor, e não despe a pele por lugares ou sinecuras, assusta-os. Põe em causa o seu próprio modo de vida, obriga-os a pensar, ainda que por breves instantes, que podia ser de outro modo, que é possível caminhar livremente e de mãos limpas.
 
Mas num país onde impera o falajar inconsequente sobre a coerência de atitudes, onde a boçalidade alarve vale mais que a inteligência, onde a aparência pesa mais que o conteúdo, são homens como Santana Lopes que parecem como ideais para ocupar o lugar de primeiro-ministro.
Quem, como Santana Lopes (apenas mais um exemplo paradigmático do estado de degradação a que chegou a classe política nacional), não suporta a sua própria comparação com a estrutura moral e intelectual de Pacheco Pereira, quem tem como único recurso fazer-se passar por um homem de paixões, tentando assim disfarçar a vacuidade intelectual, não pode compreender a atitude e ética de Pacheco Pereira. Santana Lopes é um balão de ar, um palhaço vaidoso, uma capa de revista, uma sumidade oca. Mas é gente desta que vinga na vida política, que se satisfaz com a moral rasteirinha com que conduz as suas acções – e que transforma Portugal num lugar irrespirável.

Por isso, por andar como um príncipe entre bestas, Pacheco Pereira merece todo o meu respeito e admiração.

15 de julho de 2004

restart

O meu computador encontra-se a recuperar de uma série de intervenções cirúrgicas a que foi recentemente submetido. Ainda lhe dói.
É um pequeno portátil, suavezinho (um verdadeiro microsoft) e, em poucos dias, foi formatado por três vezes. Perdeu a memória toda, como sempre acontece nestes casos, e ficou amputado de algumas habilidades que fazia.
Tive de trocar o Millenium pelo 2000 e o 2000 pelo xp, se é que sabem do que estou a falar. Instalei um anti-vírus, com firewall e tudo, e agora sinto-me seguro. Posso descarregar pornografia Posso navegar à vontade por páginas de cultura, de arte, de informação, pela blogosfera em geral, que não há vírus ou vermes ou cavalos que me ataquem.
Mas agora vou ter de lhe ensinar tudo de novo. Por exemplo, assim que se ligava, saudava-me com uma imitação do Hal 9000, do 2001 – Odisseia no Espaço, «Good afternoon. I am a Hal 9000 computer». É um pouco assustador, mas relembra-me aquilo em que cada vez mais acredito: se os homens falharam a missão, procuram-se robots voluntariosos (há quem diga que é ao contrário – isto há gente para tudo). Outra coisa que estava programado para fazer era avisar-me de situações em que eu poderia cair no ridículo. Uma vez comovi-me e comecei a choramingar quando tive de elogiar publicamente a equipa que ficou em segundo lugar no Campeonato de Sueca da Tasca (da Cultura) e o portátil desatou aos bips.
É claro esta info-exclusão teve repercussões negativas de natureza diversa. Além de perder todos os mails enviados, recebidos e em rascunho, a minha participação na blogolândia ressentiu-se bastante, em especial na Terra da Alegria, e minha vida amorosa foi bastante prejudicada (oh, Nicole!).
Agora está tudo bem. Já funciono de novo.

links reloaded

Acaba um dos melhores espaços da blogolândia, o Cruzes Canhoto!, com uma reflexão post-mortem que vale a pena ler e guardar. É um verdadeiro manifesto.
Até já, co-canhoto.

Chama-se a atenção para duas novas entradas nos links das Partículas:
Sol&Tude, da divindade egípcia dos gatos, Bastet, com prosa a escorrer poesia («vale mais a tua ausência que outra qualquer presença»);
e o Ouvir, Ver e Falar, que começa bem: «Pesadelo, acordar num país de pimbas e escroques, onde ser cidadão não é nada. Viva o desemprego e as empresas falidas, viva o buraco no Marquês, viva o desinvestimento e a nossa água que agora é francesa, a electricidade espanhola, a Galp americana... só falta as praias serem americanas. Vivam os hospitais que também já têm dono, onde a malta que não pode ficar doente vai morrer de fome, viva o livre arbítrio dos filhos da puta que nos fodem e nós a ver».

14 de julho de 2004

215 anos

Hoje é dia de alegria.
Viva a Evolução Francesa!

12 de julho de 2004


Hoje este blog está de luto por muitas razões.

10 de julho de 2004

uma voz profética, uma vida limpa



Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades


Sophia de Mello Breyner Andresen

9 de julho de 2004

há Governo? sou contra!


Há uma vantagem "colateral" para a Esquerda da não-decisão de Jorge Sampaio: este novo Governo não tem legitimidade democrática directa e, portanto, não passa sequer pelo "estado de graça" por que passam todos os Governos depois de eleitos. Há legitimidade - e mesmo obrigatoriedade - no combate imediato ao Governo por parte da Oposição.
Se houvesse disputa de eleições (que nunca seriam marcadas antes de Outubro), Santana Lopes jogaria no seu campo favorito: o marketing. Assim não. Santana está mais ou menos refém do Presidente da República (e merecem-se um ao outro neste concubinato), e tem de tentar ganhar a legitimidade popular da pior maneira, enquanto, simultaneamente, terá de fingir que faz o que não sabe nem tem competência para fazer - governar.
Às armas, camaradas!

8 de julho de 2004

contra-revolução

Anda um gajo a escrever coisas bonitas sobre os animais, a defender que eles são nossos irmãos na Criação, a ler teólogos estrangeiros (Eugen Drewermann, «Da Imortalidade dos Animais – Uma Esperança às Criaturas que Sofrem»), para fundamentar a extensão da Salvação, da Graça, da Fé e da Ressurreição a esses pedaços de carne móvel, a indignar-se com o desprezo a que são votados os cadáveres dos bichos atropelados, a clicar diariamente nas ajudas on-line para alimentar esses indolentes, a aprofundar o estudo ético e a tentar melhorar a sua moral em relação a essas alimárias, a ser criterioso com a escolha das compras mais banais, para que não compre inadvertidamente produtos que resultem de testes em animais, a reduzir o consumo de carne para não colaborar com o tratamento indigno que sofrem os animais da indústria alimentar, e não é que um destes exemplares, um roedor, resolve sabotar o meu carro revolucionário?
Levo o carro de Sintra a Cascais, regresso a Sintra e gasto nesta viagem mais de metade do depósito do combustível (30 €, pá). Já na reserva, levo o carro à oficina, o perito olha para ele e descobre um tubo roído: um rato (ou um gato, mas recuso-me a admitir essa hipótese) furou um tubo por onde passa a gasolina sem chumbo de 98 octanas para o motor do meu veículo libertário.
Esperem pelas eleições que já vos digo!

vemo-nos por aí

Mais um blog que encerra a loja. Adeus, coruche.

7 de julho de 2004

homenagem a Baía

Agora que já passaram uns dias, há que dizê-lo com frontalidade: o Ricardo teve culpa no golo do Charisteas. Até o meu primo pequenino sabe que na pequena área quem manda é o guarda-redes. Neste país se o comentador televisivo diz que que o guarda-redes não tem culpa do golo, então temos um dogma inquestionável. Opinião própria? Que disparate. O Ricardo esconde-se atrás de 4 jogadores, à espera, se calhar, que a bola passasse pelos quatro por artes mágicas. Baía teria dado 2 passos à frente do Charisteas, agarrava a bola e dava um cachaço ao Costinha. O Quim teria feito o mesmo. Ou o Moreira. Ou um guarda-redes.

quarta-feira

Vemos, ouvimos e lemos.

5 de julho de 2004

acabou o chinfrim

A selecção perdeu outro jogo com a Grécia. Jogou muito bem, somos os melhores, mas perdeu outra vez. Eles não jogam nada, o futebol é feio, destrutivo, mas ganharam duas vezes. Nós perdemos. O Cristiano Ronaldo, o Pauleta e o Rui Costa choraram. O pesetero não chorou, apesar da bandeira do Barça atirada à cara. A Nelly Furtado cantou no encerramento. A gravata da sorte do já ex-primeiro-ministro não deu a sorte suficiente. O meu vizinho embebedou-se e vomitou o passeio. Hoje o Presidente da República chorou. Isto é tudo tão ridículo. Viva Portugal. Pois.

Querido amigo
Continuo a viver à margem do mundo, enclausurado no meu quarto. As notícias que me vão chegando aos ouvidos são perturbantes: Gilberto Madail troca a presidência da federação nacional pela presidência da federação europeia, Santana Lopes ocupa o lugar deixado vago - quem diria! Esta noite ouvi de novo buzinas nos corredores da clínica: parece que Portugal se sagrou campeão europeu de andebol. Uma festa! Sinto falta da mãe, sinto falta da Sara, sinto falta dos cariocas da Tentadora, só não sinto falta nenhuma da Lena. A doutora Sílvia continua a recomendar-me repouso, muito repouso. Na sessão de ontem tentei descrever-lhe um pesadelo recorrente: a Lena, de unhas postiças, a arranhar-me os testículos. Comecei a sentir suores frios.
«Relaxe João, tente relaxar...», ia-me dizendo a doutora Sílvia.
João Mendes Cruz (pessoalmente)

3 de julho de 2004

aquela Sophia que partiu


Aquele que partiu
Precedendo os próprios passos como um jovem morto
Deixou-nos a esperança.

Ele não ficou para connosco
Destruir com amargas mãos seu próprio rosto
Intacta é a sua ausência
Como a estátua dum deus
Poupada pelos invasores duma cidade em ruínas

Ele não ficou para assistir
À morte da verdade e à vitória do tempo

Que ao longe
Na mais longínqua praia
Onde só haja espuma sal e vento
Ele se perca tendo-se cumprido
Segundo a lei do seu próprio pensamento

E que ninguém repita o seu nome proibido.


Sophia de Mello Breyner Andresen

2 de julho de 2004

último cais

os dias de glória estão de volta

Finalmente uma boa notícia: o Benfica é o clube que tem mais jogadores na final do Euro 2004.

É também o único clube que já pode afirmar que terá pelo menos um jogador campeão europeu.

1 de julho de 2004

dilema moral

Num acesso de fervor democrático (que cada vez menos tenho, mas isso é assunto para postagem noutra ocasião), defendo a convocação de eleições antecipadas, por várias razões que são do conhecimento e causa comum à oposição de esquerda: a falta de legitimidade política de um Governo em que o seu líder é escolhido à pressa numa qualquer reunião partidária; a fraca legitimidade de um novo Governo com a coligação cujos partidos foram claramente derrotados nas últimas eleições (ainda que não legislativas, é certo); o desconhecimento total do Programa de Governo ou a sua imposição por quem, como o Presidente da República, não tem competência para tal; e por muitas outras razões que o nosso abrupto preferido enumerou aqui.
Mas, por outro lado, partilho da opinião do Francisco José Viegas: creio que, na disputa de eleições (que nunca seriam marcadas antes de Outubro), Santana Lopes (se for ele o nomeado pelo PSD) joga no seu campo favorito. Santana Lopes é incompetente, uma vacuidade intelectual e cultural, um balão de ar, uma fachada apalhaçada, mas tem talento para ganhar eleições. Daria um excelente vendedor de carros usados.
Assim, convocando eleições (o que eu, na verdade, espero que aconteça), o PR faz um favor a Santana Lopes. Neste tempo que mediaria até à realização de eleições, Santana livra-se dos seus adversários internos no PSD (gente inteligente e/ou cavaquistas ou mesmo barrosistas), recheia-se de promessas e adopta convicções que não sonha cumprir e ganha debates de palavras ocas com adversários do PS, na televisão onde é mestre de ilusionismo. Sem dever nada ao PR, com legitimidade ganha pelo combate populista, arrasta os votos do eleitorado do PSD, juntas os 56 votos que o PP ainda tem e - medo!, muito medo! - ganha ao PS que, durante este tempo todo, se entretém numa cega guerra civil.
Que venha o demo(crata) e escolha.

até amanhã, companheiros

O companheiro secreto deixou-nos. Boa viagem.

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