José Pacheco Pereira é um homem íntegro e de
palavra, coisa a que antigamente se dava valor. A palavra, a
honra, era aquilo que de mais íntimo se podia obter de um homem, o expoente da confiança que cada um.
Hoje não. Hoje o dinheiro, a carreira, o sucesso, os pequenos poderes são os objectivos únicos da vida – mesmo das vidas de quem supostamente se dedica à coisa pública. Com a ambição promovida a valor social, a luta por estes objectivos, infantis e tacanhos se não em função de outros mais vastos, transforma-se num terreno perigoso, sem regras, onde é difícil sobreviver sem cair no lodo.
A actividade nobre que era a Política, o serviço dedicado ao bem comum, foi submetida aos interesses pessoais e mesquinhos de quem passa pelos partidos do poder, hoje transformados em simples agências de empregos, de que são aqueles seus sócios ou gerentes.
O caso das juventudes partidárias, esses liceus de intriga e da submissão acrítica, são um bom exemplo da degradação a que chegou a actividade política em Portugal. Porque é aí que se formam aqueles que, mais tarde e em função do seu grau de servilismo ao líder do momento, vão conseguindo uns lugarzinhos que o seu partido tem para oferecer: nas concelhias, nas distritais, numa autarquia, numa empresa pública, num instituto, numa chefia de gabinete, numa secretaria de Estado, etc. E, como numa moderna empresa de venda de cosméticos, vão, de degrau em degrau, sendo acompanhados por um séquito de outros como eles outrora foram e ainda são: abutres à espera de oportunidade, parasitas da ganância dos outros, capazes de tudo por subir mais um degrau na escada partidária.
Neste contexto, a atitude, coerência e integridade de
Pacheco Pereira - para não falar na superior inteligência, ampla cultura e saber renascentista – assustam aqueles que, pelo menos, têm a consciência da sua própria mediocridade. Os que ganham a vida (literalmente, porque raramente ganham dinheiro fora da política) em jogos de bastidores, a derrotar lícita ou ilicitamente adversários internos; os especialistas na gestão das fraquezas humanas e no uso da mentira como arma de divisão e domínio; os que aprenderam a saborear os frutos da hipocrisia e do cinismo; os que vão, de jogo sujo em jogo sujo, de ameaça em ameaça, com muitas facadinhas nas costas dos que atravessam no seu caminho, subindo na hierarquia das estruturas partidárias; os que têm medo de (deba)ter ideias, porque isso pode prejudicar a sua "carreira"; os populistas que fogem dos confrontos sérios e limpos; os demagogos que não sabem pensar; esses assustam-se com a hombridade dos homens rectos, como Pacheco Pereira.
Porque
Pacheco Pereira, que não se verga em troca de missangas, que despreza mordomias a que os outros dão tanto valor, e não despe a pele por lugares ou sinecuras, assusta-os. Põe em causa o seu próprio modo de vida, obriga-os a pensar, ainda que por breves instantes, que
podia ser de outro modo, que é
possível caminhar livremente e de mãos limpas.
Mas num país onde
impera o falajar inconsequente sobre a coerência de atitudes, onde a boçalidade alarve vale mais que a inteligência, onde a aparência pesa mais que o conteúdo, são homens como Santana Lopes que parecem como ideais para ocupar o lugar de primeiro-ministro.
Quem, como Santana Lopes (apenas mais um exemplo paradigmático do estado de degradação a que chegou a classe política nacional), não suporta a sua própria comparação com a estrutura moral e intelectual de Pacheco Pereira, quem tem como único recurso fazer-se passar por um homem de paixões, tentando assim disfarçar a vacuidade intelectual, não pode compreender a atitude e ética de Pacheco Pereira. Santana Lopes é um balão de ar, um
palhaço vaidoso, uma capa de revista, uma sumidade oca. Mas é gente desta que vinga na vida política, que se satisfaz com a moral rasteirinha com que conduz as suas acções – e que transforma Portugal num lugar irrespirável.