16 de julho de 2004

dignitas

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
 
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
 
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
 
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não. 
 
Sophia de Mello Breyner Andresen
 

José Pacheco Pereira é um homem íntegro e de palavra, coisa a que antigamente se dava valor. A palavra, a honra, era aquilo que de mais íntimo se podia obter de um homem, o expoente da confiança que cada um.
Hoje não. Hoje o dinheiro, a carreira, o sucesso, os pequenos poderes são os objectivos únicos da vida – mesmo das vidas de quem supostamente se dedica à coisa pública. Com a ambição promovida a valor social, a luta por estes objectivos, infantis e tacanhos se não em função de outros mais vastos, transforma-se num terreno perigoso, sem regras, onde é difícil sobreviver sem cair no lodo.
A actividade nobre que era a Política, o serviço dedicado ao bem comum, foi submetida aos interesses pessoais e mesquinhos de quem passa pelos partidos do poder, hoje transformados em simples agências de empregos, de que são aqueles seus sócios ou gerentes.
O caso das juventudes partidárias, esses liceus de intriga e da submissão acrítica, são um bom exemplo da degradação a que chegou a actividade política em Portugal. Porque é aí que se formam aqueles que, mais tarde e em função do seu grau de servilismo ao líder do momento, vão conseguindo uns lugarzinhos que o seu partido tem para oferecer: nas concelhias, nas distritais, numa autarquia, numa empresa pública, num instituto, numa chefia de gabinete, numa secretaria de Estado, etc. E, como numa moderna empresa de venda de cosméticos, vão, de degrau em degrau, sendo acompanhados por um séquito de outros como eles outrora foram e ainda são: abutres à espera de oportunidade, parasitas da ganância dos outros, capazes de tudo por subir mais um degrau na escada partidária.
 
Neste contexto, a atitude, coerência e integridade de Pacheco Pereira - para não falar na superior inteligência, ampla cultura e saber renascentista – assustam aqueles que, pelo menos, têm a consciência da sua própria mediocridade. Os que ganham a vida (literalmente, porque raramente ganham dinheiro fora da política) em jogos de bastidores, a derrotar lícita ou ilicitamente adversários internos; os especialistas na gestão das fraquezas humanas e no uso da mentira como arma de divisão e domínio; os que aprenderam a saborear os frutos da hipocrisia e do cinismo; os que vão, de jogo sujo em jogo sujo, de ameaça em ameaça, com muitas facadinhas nas costas dos que atravessam no seu caminho, subindo na hierarquia das estruturas partidárias; os que têm medo de (deba)ter ideias, porque isso pode prejudicar a sua "carreira"; os populistas que fogem dos confrontos sérios e limpos; os demagogos que não sabem pensar; esses assustam-se com a hombridade dos homens rectos, como Pacheco Pereira.
Porque Pacheco Pereira, que não se verga em troca de missangas, que despreza mordomias a que os outros dão tanto valor, e não despe a pele por lugares ou sinecuras, assusta-os. Põe em causa o seu próprio modo de vida, obriga-os a pensar, ainda que por breves instantes, que podia ser de outro modo, que é possível caminhar livremente e de mãos limpas.
 
Mas num país onde impera o falajar inconsequente sobre a coerência de atitudes, onde a boçalidade alarve vale mais que a inteligência, onde a aparência pesa mais que o conteúdo, são homens como Santana Lopes que parecem como ideais para ocupar o lugar de primeiro-ministro.
Quem, como Santana Lopes (apenas mais um exemplo paradigmático do estado de degradação a que chegou a classe política nacional), não suporta a sua própria comparação com a estrutura moral e intelectual de Pacheco Pereira, quem tem como único recurso fazer-se passar por um homem de paixões, tentando assim disfarçar a vacuidade intelectual, não pode compreender a atitude e ética de Pacheco Pereira. Santana Lopes é um balão de ar, um palhaço vaidoso, uma capa de revista, uma sumidade oca. Mas é gente desta que vinga na vida política, que se satisfaz com a moral rasteirinha com que conduz as suas acções – e que transforma Portugal num lugar irrespirável.

Por isso, por andar como um príncipe entre bestas, Pacheco Pereira merece todo o meu respeito e admiração.

15 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra!
Ou esses elogios rasgados são por causa do tem escrito sobre o SLopes?
Já te esqueceste do que ele escreveu sobre a invasão do Iraque e sobre as armas de destruição maciça?
Espero, sinceramente, que não te venhas a arrepender do que escreveste, para nosso bem!

o net pulha

17 de julho de 2004 às 01:50  
Anonymous Anónimo said...

oh net pulha

Mas é necessário sempre que alguém não tem integralmente as mesmas posições políticas que as nossas fazer-lhe elogios apenas moderados ou nem sequer falar nele?

Essa tua linha de raciocínio, aliás, correspondente às duas linhas (perdão, linha e meia) que o barnabé Daniel Oliveira escreveu é das atitudes mais perigosas que conheço em política e não só.

A sempre estúpida ideia que as pessoas ou são completamente estúpidas ou completamente inteligentes, completamente boas ou completamente más.

É talvez a ideia mais totalitária que conheço.

Excelente post este. E não apenas pelo que acabei de escrever mas porque contém todos os elementos para definir uma atitude ética correcta na política.

timshel

17 de julho de 2004 às 08:33  
Blogger CC said...

Eu não concordo com todas as posições políticas do Pacheco Pereira - e a sua posição face à guerra ao Iraque é só uma delas. Por tudo, ele é militante do PSD (deste PSD) e isso bastar-me-ia para levantar reservas quanto à aceitação da totalidade do seu pensamento político.

O que admiro nele - para além da cultura ímpar num país de políticos boçais e tacanhos - é a dignidade pessoal, a honestidade intelectual (como agora se diz) e o comportamento ético na actividade pública, infelizmente muito raros no nosso país.
Mesmo que não concorde com Pacheco Pereira, sei que com ele é possível saber a razão das suas posições, porque ele as pensa, as expõe e as fundamenta. Com ele é possível debater ideias e discuti-las, com lealdade. E esta atitude - só possível em quem sabe e não tem medo de pensar livremente - é um estorvo a quem quer subir no lodaçal das estruturas partidárias. O que não incomoda muita gente, porque lhes resolve dois problemas: o trabalho de estudar os "dossiers", de pensar nos assuntos e de se documentar; e a responsabilidade pessoal que daí advém, com o confronto com os caciques que se incomodam com vozes demasiado livres e insubmissas.

Este post vem a propósito da sua não aceitação do cargo de embaixador de Portugal na UNESCO, em nome da liberdade de pensamento e da exigência ética na intervenção na vida pública, enquanto outros (a maioria) no seu lugar, comem e calam, porque precisam das sinecuras para viver; porque a sua vida pública é de uma inutilidade extrema e porque usam a política para ter empregos e não o contrário (ver http://jornal.publico.pt/2004/07/16/Nacional/P20.html). Mas podia ter sido escrito antes, que não alterava uma linha.

Quanto ao resto, o timshel já disse tudo.

17 de julho de 2004 às 10:39  
Blogger Bastet said...

No quadro político actual, destítuido de ideologias e valores, cada vez mais a separação se faz entre pessoas válidas, honestas e os outros (muitos)e, como no Euro2004, já vamos ficando orgulhosos com pouco,quando alguém se comporta com nível!

17 de julho de 2004 às 11:17  
Anonymous Anónimo said...

Pacheco Pereira até não mauzito.
É culto sem ser demasiado pedante, tem alguma coerencia no discurso, escreve menos mal.
O único problema é que é demasiado idealista para lidar com a "Real Politik" actual.
Alem disso, não o acho assim nada de especial e nao vejo por isso razao para o por nesse pedestal.
Faltam-nos mais, muitos mais como ele e melhor que ele.
Por onde andaram perdidos os talentos políticos portugas?
É que numa terra com tantos cegos quem tem um olho é rei.

ha um artigo no meu blog sobre democracia na internet que talvez vos possa interessar: cyberiade.blogs.sapo.pt

17 de julho de 2004 às 11:54  
Anonymous Anónimo said...

É esse o problema! Em terra de cegos, quem tem olho é rei!
Depois do que disse e escreveu acerca do Sr. Lopes, achas que teria condições de aceitar o cargo? E ele como inteligente que é, prefere saír em ruptura com o actual quadro político que é com toda a razão que dou às tuas palavras, CC, tacanho, o mais possível!
Não será uma estratégia? Será ele o D.Sebastião que salvará o PSD da derrocada que se avizinha?
Só o que crítico nesse teu post, CC, é o pedestal em que o colocas!
Mai'nada!

o net pulha

18 de julho de 2004 às 00:44  
Blogger CC said...

net pulha,
neste momento "quem tem olho" é o Santana Lopes e não sei o que é essa "derrocada que se avizinha" de que falas. Que eu tenha conhecimento, o novo Governo tomou posse no sábado passado!
Além disso, o JPP já tinha sido nomeado para o cargo na Unesco e a sua nomeação havia saído em DR. "Estratégia" era ficar sossegado e calado no seu cargo, enquanto aguardava as escorregadelas do Santana, como tantos fazem, em vez de o ter criticado abertamante como fez, já depois da certeza da sua escolha para líder do PSD.

E - uma última vez -, o post não é sobre esta decisão em concreto do JPP. É sobre a ética no exercício da política.
(Se não te conhecesse, pensaria que eras um boy do PSD ressabiado).

19 de julho de 2004 às 00:32  
Anonymous Anónimo said...

"Não será uma estratégia?" (netpulha dixit)

Acho que Steinbeck já respondeu a isto:

"Certa espécie de homens, ao ouvirem falar de um acto de honestidade, procuram a desonestidade que o gerou."
(O Inverno do nosso descontentamento, pag. 153)

timshel

19 de julho de 2004 às 11:35  
Blogger Sofia Garcia said...

Desculpa lá Bom Selvagem mas esse raciocínio tem muitas falhas. Agora não se pode ter voz crítica porque não se actua. è a voz crítica que impede muitas vezes de acontecerem verdadeiras barbaridades.

Primeiro JPP não será do tipo de homem critica e não faz, porque já esteve em imensos cargos políticos (presidente da distrital de Lisboa, deputado europeu, pertenceu ao conselho nacional do PSD), mas como sempre foi uma das únicas vozes contra a coligação desde o seu início o seu afastamento foi proguessivo. Decerto não achas corajoso publicar no Público a carta de apoio a manuela Ferreira Leite (que com toda a legitimidade poderia ser hoje primeira ministra de Portugal, já que era vice ministra, não tivesse Durão Barrosso fastado logo essa hipótese e relegando-o para uma casualidade da sua escensão...ou seja, deixou-a pendurada...). Não confundas opiniões sobre futebol, ciência, relações, cultura, com actos políticos. Coerência deste tipo é raro e não se encontra.

Quanto a Paulo Portas basta lembrar que o percusso foi inverso. Dos jornais mexeu uma marioneta chamada Manuel monteiro, lançou decididamente um discurso moralista e populista na política portuguesa enquanto ia minando o governo de Cavaco Silva através das capas semanais do Independente. Uma vez chegado ao poder, por todos os meios , queimando os que seriam necessários, esqueceu-se de tanto moralismo que lhe inflamava a juventude e adoptou a atitude de "estadista". Não é de certeza referência nenhuma, muito menos de um político sério.

A propósito , aqui vai um pedaço que está no outro blog no JJP - http://veritasfiliatemporis.blogspot.com/


O que segue é de um discurso que deu na assembleia da república em 1994, na altura em que o CDS/PP lança uma moção de censura ainda sob o governo de Cavaco. É incrível , mas para além de profético acertou na mouche na forma como estilo Portas cresceu e se consolidou através de uma marioneta de nome Manuel Monteiro.

Lê. está fenomenal

«(….)

Começa por ser uma política disfarçada (a do CDS/PP), escondida, ocultada nos seus fins e objectivos. Do mesmo modo que o PCP não pode nomear a sua política verdadeira, que consiste na tomada revolucionária do poder político , também o CDS/PP não o pode fazer porque detrás de todas aquelas grandes palavras está uma realidade comezinha e pouco brilhante: o CDS/PP quer que o PSD perca a maioria de governo que hoje tem, para, na convulsão dessa perda, afastar da vida política o Prof. Cavaco Silva e ter a oportunidade de impor uma aliança com um PSD enfraquecido que se tornaria refém de um pequeníssimo CDS/PP. Quer ver acabar o PSD maioritário, quer ver afastado Cavaco Silva que elegeu como inimigo principal, quer um PSD para aliado porque sabe que precisa dos seus votos que o CDS/PP sabe nunca ir ter , mas quer subordinado a uma frágil coligação em que o partido mais pequeno mande. O PSD traria os votos, o CDS/PP exerceria o poder.

Todas as grandes palavras do CDS/PP servem só para esconder isto e é contra isto que o PSD tem que combater, porque o projecto político do PSD não pode ser hipotecado ao de um pequeno partido no extremo da direita e a um grupo de dirigentes políticos exaltados, que faz política subordinada aos editoriais do director de um jornal, que não conhece o país e que está obcecado por uma vontade de poder sem grandeza nem dimensão.

O que dissemos atrás revela uma das características mais negativas da actual política do CDS/PP e que consiste precisamente em esconder e disfarçar as suas verdadeiras posições políticas por detrás de arrogantes proclamações morais. Este teatro da indignação moral a que o Dr. Monteiro dá a voz e o corpo todos os dias, tem o duplo efeito de degradar a acção e o debate político, e de abastardar o papel dos valores quer na acção política colectiva, quer no ethos individual, onde estes têm outro lugar e outra fala.

Esconder a política por detrás de proclamações morais é sempre uma má política e uma péssima ética. Ao conduzir uma política com uma linguagem feita de proclamações morais, o CDS/PP impede que as suas posições políticas sejam debatidas no mesmo plano de todas as outras, instituindo assim uma dicotomia entre "nós", os puros, os da "fortaleza das convicções" como, sem o senso de ridículo, se auto classifica o Dr. Monteiro e os "outros" os incompetentes, os inaptos, os corruptos, os traidores, os vende pátrias, etc, etc. Esta é uma linguagem que, na simplicidade do seu preto e branco, é estruturalmente repressiva.

Este tipo de linguagem pretensamente moral assume assim um carácter totalitário, próximo da "língua de madeira" que os comunistas falam, tornando absolutas e inquestionáveis posições que são de um partido, que como as de todo e qualquer partido, são parciais e representam escolhas, e opções tão legítimas como quaisquer outras, mas de nenhum modo eticamente superiores, como quase sempre se apresentam. Esconder que este é o carácter da linguagem política em democracia e substituí la por invectivas morais sobre os bons e os maus é destruir o espaço do debate público, a igualdade da escolha que se coloca ao último julgador: o povo e o primado das leis.

A enorme arrogância do CDS/PP, patente nas mais pequenas declarações, patente nos tiques e nos truques da linguagem, na falsa e estudada indignação dos seus dirigentes, é pois um mecanismo de ocultação, no fundo uma pequena táctica politiqueira ao serviço de posições tão precárias, circunstanciais, dependentes de interesses e idiossincrasias, egoísmos e ideais como quaisquer outra. »

Desculpa comentário tão longo CC, mas acho que é pertinente.

21 de julho de 2004 às 12:41  
Blogger Sofia Garcia said...

Ele não foi apenas deputado europeu era a cabeça de lista do PSD nas penultimas europeias o que se traduziu em muitas feirinhas, muitos jantares, muitos discursos ao povo que tanto pareces defender. O mesmo tipo de política que acabou por ser fulminante para Sousa Franco porque teve de percorrer o país de lés a lés a conquistar o voto.

Por isso sim já o fez.

E não me parece que ser intelectual ou que não vá atrás da carneirada seja um handicap. A coerência que aqui se fala não é de fugir à responsabilidade política através de colunas de opinião ou através do blog, mas se alguém é contra a coligação, é contra este governo não eleito acharias que poderia em boa consciência aceitar o cargo da UNESCO ?
Não o vi entregar o cartão do partido , continua a ser PSD, apenas não pactua, e tem liberdade e pelos seus actos digo observas que não é Frei Tomás, não....
Naõ sei o que pensarão todos os portugueses sobre Pacheco ou sequer se as suas opiniões chegam á maioria, mas não te parece estranho que o blog dele tenha honras de ser citado nas SIC (canal generalista notíciario da noite) ou estejam sempre a passar as suas opiniões da quadratura do círculo?

Se calhar vozes de intelectual já chegam ao Povo sim...

Mas se queres meter Michael Moore ao barulho ou Bill Clinton estamos a entrar noutras esferas.

21 de julho de 2004 às 15:00  
Blogger Sofia Garcia said...

O discurso de 94 era para explicar a ascensão de Portas o político que apontas como muito actuante e interventivo, não para acentuar a "inteligência" ou visionismo de Pacheco.

Mais de nunca acho importante vozes do contra, vozes que apontam as feridas, ou será que não reparaste que temos dupla Portas/ Santana no poder sem possibilidade de os tirar de lá (responsabilidade essa apenas entregue ao Presidente)?. Cada dia que passa é promessas sem qualquer fundamento , como a de ontem em que Victor Constãncio dizia que não era possível baixar IRS e Santana e Bagão estavam a sair da reunião a dizer que se houvesse folga baixariam?

E olha o comentário mais inteligente que ouvi foi o Miguel Sousa Tavares (que apontou que importante seria cabar com clientelismo do Estado, imensas empresas que não pagam impostos, para depois assim poder baixar o IRC e não o IRS medida populista que é apenas para apaziguar eleitorado e não uma medida de fundo que tornará a economia mais competitiva), no jornal da noite na TVI, visto por muita gente, visto por muito "povo". Se calhar tem influência não?

21 de julho de 2004 às 15:11  
Blogger Sofia Garcia said...

espero que isto que tenho escrito esteja legível, está a ir com tanta gralha...ehehe...

CC depois podes pagar-me jantarada por alimentar a polémica no teu blog . : )

já agora muito bonito o poema que publiscaste. De certeza saberás que foi dedicado a Francisco Sousa Tavares. O filho, com algumas falhas (quando fala do Porto e do Pintinho aquilo sai um bocado mal ...), parece-me guardar as mesmas características: não ter medo, não se mascarar. Acho que isso ainda é importante, só isso.

21 de julho de 2004 às 15:28  
Blogger CC said...

Bom Selvagem,
tens razão nas críticas ao JPP, quando falas sobre o seu discurso populista sobre a Esquerda, ou quando ele se atrapalha na defesa da guerra ao Iraque (em especial depois da demonstração da ausências das ADM) e quanto à excessiva compreensão de JPP em relação à política de Israel. Ou, pior - quando relembrou a despropósito as "torturas" aos ex-pides.

No entanto, parece-me que cais tu próprio num erro. Se aplicares a tua exigência ética aos restantes políticos, verás que, ainda assim, homens como JPP serão os que passarão pelos crivos mais apertados do teu critério: os outros - a maioria, quase todos os outros - não passam nos mais largos critérios éticos que apliques. Porque a grande diferença - e é isso que quis realçar - é que a motivação de uns e de outros é diferente. Creio que para JPP, o que o motiva é um nobre sentido de transformação da sociedade para a melhoria do bem-estar colectivo. Para a maioria, a motivação é mais mesquinha: interesses próprios, prestígio pessoal, dinheiro, poder, etc.

Dizes que JPP não quer cargos onde se sujeite a uma oposição crítica: autarquias, governo, etc, e que «para ser atingir o poder é sempre necessário corromper e ser corrompido. É preciso pactuar e aceitar a convivência com coisas que nos são estranhas e desagradáveis». Daí o lugar cómodo de JPP, enquanto treinador de bancada.
Mas é precisamente o não querer - e não precisar - dos jogos de poder sujos, das pequenas traições, do vender pedaços da sua liberdade e dignidade em troca de lugarzinhos e dos podres poderes, que louvei JPP neste post.

Pacheco Pereira podia - sem por isso ser criticado por terceiros - ter continuado como embaixador da Unesco. Podia calar e "gerir o silêncio", enquanto esperava as asneiras de Santana Lopes, podia ficar sossegado que, em termos pessoais, não perderia nada. Viveria em Paris, onde se adaptaria bem aio cargo, longe da politiquice caseira, ganhava "estatuto" (como faz esse bluff do António Vitorino, como fez o Durão Barroso enquanto esteve nos EUA, como fazem tantos outros que esperam na calada), ganhava tempo.
Não o quis fazer, em prejuízo pessoal (financeiro, de prestígio, etc.) - e isso é uma atitude ética que merce o meu respeito.

22 de julho de 2004 às 12:12  
Blogger CC said...

Mais.

A crítica ao JPP, tal como a formulaste, lembra-me as acusações aos católicos porque não dão todo o seu dinheiro aos pobres, ou porque dizem mal dos outros, e porque «os que vão à missa são piores que os outros».
Ou aos comunistas, porque «têm um bom carro» ou «vão de férias para não-sei-onde», etc.

O facto da exigência moral e ética para JPP (como para os católicos ou para os comunistas) ser mais alta que para a generalidade da classe política parece-me injusto.

É que aos outros, os que não defendem quaisquer ideais, os que são assumidamente egoistas e não tentam melhorar, os que, na Política, não têm discurso ou acção social, esses tem a vida facilitada. Mesmo as fraquezas, os silêncios, as contradições do seu pensamento ou da sua acção são sempre justificados: nunca é necessário provar alguma coisa.

22 de julho de 2004 às 12:23  
Blogger Sofia Garcia said...

Já agora mais uma acha para a fogueira. Então Bill Clinton tinha um padrão moral elevadíssimo por ter sido educado por jesuítas, ser baptista e no entanto demonstrar comportamento cristão? (já agora os Baptistas são cristãos, não são é católicos romanos).

A ética política nada tem a ver com a moral que advém da religião. Não interessa se advoga alguma religião. Alguns dos mais religiosos vêm a ser os maiores sacanas ( e não estou a falar do presidente da Assembleia da República). Por isso é que quando Paulo Portas (again, um óptimo exemplo) afirmou que como Portugal não tinha atingido pela mancha de crude o ano passado ficava provado Nossa Senhora era portuguesa perceberás que toda a educação cristã foi-lhe inútil (já agora Portas, himself, educado por jesuítas). Por isso é que ele está sempre a puxar de exemplos de "bom cristão" mas ética política não me parece que tenha nenhuma.

E tens razão quanto a tudo o que disseste sobre Guantanamo, a guerra do Iraque, mesmo outras opiniões mais mundanas e comezinhas. O homem (agora JPP) engana-se, persiste em errar e diz disparates. Mas é coerente, e tem, manifestamente, palavra. E os seus últimos actos foram corajosos e uma pedrada no charco nesta balbúrdia toda. Podem não ser cargos mas são gestos muito simbólicos. E gestos que não passam desapercebidos, nem a mim, nem a ti ou ao povo (ou porque achas que Portas é sempre o mais vaiado? Por todo o povo vê à légua que é um falso!)

Mas vou ler o Maquiavel, a Arte da Guerra , o Julius Ceasar, para rever conceitos da real politik : )

De resto Peace & Love, o JPP não parece que precise que o defendam, achei como o CC que neste momento se revela "um príncipe entre as bestas".

22 de julho de 2004 às 13:00  

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