26 de julho de 2004

Meu caro amigo João Mendes Cruz,
o seu prolongado silêncio deixa-me apreensivo. Fico deveras preocupado com o seu estado de saúde. Penso que ainda não deixou a clínica (caso contrário, creio que teria tido notícias suas), mas que se encontra impossibilitado de expedir as suas cartas - que eram um fôlego ímpar para estas pobres Partículas.
No entanto, surge no meu pobre espírito uma outra ideia, um pensamento terrível: talvez o meu amigo João Mendes Cruz pense que está melhor de saúde e assim, com o egoísmo característico das pessoas saudáveis, deixe de nos comunicar a sua lúcida e indispensável visão do mundo. Essa forma de doença - a mais subversiva de todas -, que é o pensarmos que estamos saudáveis, torna-nos pessoas com uma auto-estima ridícula, de uma boa-disposição insuportavelmente irritante, e com um estúpido alheamento do que de (pouco, é certo) importante há nesta vida: a dor, o sofrimento e a angústia, que tentamos inutilmente vencer.
Por favor, diga-me alguma coisa para este mail. A blogolândia precisa do João Mendes Cruz, tal como Portugal precisa de um Santana Lopes ou o mundo da espiritualidade new-age: não importa o que seja, importa é que apareça e nos ilumine.
Um abraço e as suas melhoras - mas não em excesso.
O seu camarada na doença,
CC

5 Comments:

Blogger josé said...

Concordo com o CC e partilho da sua preocupação. É bem sabido que a fase mais perigosa de uma doença é a convalescença, altura em que a sensação ilusória e transitória de iminência de cura provoca o baixar das guardas dos sistemas imunitários do organismo e sobretudo da nossa psique. Paramos então de analisar atentamente os fluidos corporais, de medir amiúde a tensão arterial, de gravar o som da nossa expectoração, de observar a evolução da nossa tez facial, de palpar atentamente o relevo do nosso ventre, enfim, de cuidar de nós. É nessa altura que a insidiosa doença, qual fagulha ígnea que flutua pelo ar, volta a caír sob o nosso corpo ainda sem rescaldo, e recomeça de novo a evolução incendiária da doença. CC amigo, cuida do João, sê mais pertinaz que a sua santa mãe.

26 de julho de 2004 às 12:08  
Blogger Bastet said...

Caro João:
Estou certa que foi desta que a Lena o agarrou e o convenceu que se tinha curado. E secalhar até se curou. Mas estou igualmente certa que não é isso o que quer nem que muitos querem. Lá se vai todo o propósito e o espólio de uma vida. E depois que será feito do CC e das suas Partículas? Abandonados nesta vida doce e comezinha às certezas pouco lúcidas dos não depressivos?

26 de julho de 2004 às 15:43  
Blogger forass said...

Chegou aos 80... não há mais! Mas há uma coisa, falta a combinação 1 do formulário...

30 de julho de 2004 às 00:20  
Anonymous Anónimo said...

"Essa forma de doença - a mais subversiva de todas -, que é o pensarmos que estamos saudáveis, torna-nos pessoas com uma auto-estima ridícula, de uma boa-disposição insuportavelmente irritante, e com um estúpido alheamento do que de (pouco, é certo) importante há nesta vida: a dor, o sofrimento e a angústia, que tentamos inutilmente vencer."

PROCURA AJUDA! RÁPIDO!

William Sarotto

30 de julho de 2004 às 06:11  
Anonymous Anónimo said...

CC
Francamente: a blogolandia precisa de si como o país precisa de um Santana L.?! Essa não meu caro amigo.
ass: teresa caeiro

3 de agosto de 2004 às 18:42  

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