16 de agosto de 2004

o nosso pé ésse

Uma das vantagens dos partidos do centro é consequência da ausência de uma linha ideológica definida, da construção programática baseada em conceitos vagos, muito adjectivada mas pouco substantiva, e de um discurso recheado de banalidades e frases feitas, com as quais a maioria da população tende, sem esforço, a concordar.
Assim, as peripécias internas, quer do PS quer do PSD, são seguidas à laia de novela pelos seus intervenientes (que assumem bem o papel de personagens), pela comunicação social (que alimenta e se alimenta do folclore partidário em detrimento do conteúdo das propostas ou dos debates) e pelos cidadãos / tele-espectadores (que se posicionam perante o teatro que assistem, ao lado de uma ou mais personagens, com as quais se identificam, quase sempre pelos piores motivos). Só a conjugação destes ingredientes possibilitou que Santana Lopes chegasse ao poder. É verdade que foi ajudado pela hesitação e receio do Jorge Sampaio, mas o caminho ao populismo estava aberto. A constituição do XIV governo constitucional representa a vitória da mediocridade, dos políticos ocos e da política espectáculo, dos mecanismos publicitários, da personalização da acção política.
Cada português tem o seu político ou a sua ala ou tendência preferida em cada um dos partidos do centrão. Eu próprio já aqui louvei as virtudes de Pacheco Pereira, pelo que não estou isento destes fenómenos identitários. É neste contexto que vão decorrer as eleições no PS. A pergunta dos inquéritos de opinião torna-se, portanto, natural: qual é o seu líder do PS preferido? O mesmo acontece com o PSD. Uma resposta correcta seria Isso é lá com eles. Eles que são brancos que se entendam. Mas não. Cada compatriota sente-se no direito de se manifestar. Afinal, fazemos todos parte do público. E pagámos bilhete.

13 Comments:

Blogger Asulado said...

Bravo!!!
Falar de populismo e não referir uma única vez Bloco de Esquerda, Francisco Louçã e Miguel Portas... é obra!!!

16 de agosto de 2004 às 14:05  
Blogger Alcabrozes said...

Estás a fazer alguma confusão, Asulado?
Já alguma vez ouviste alguém do BE prometer mundos e fundos?
Aliás, populismo é propôr soluções antagónicas com a corrente ideológica a que se pertence, só por causas eleitorais, quer o Bloco quer até a CDU são coerentes com a sua ideologia desde sempre. As inflexões neo-liberais que andam ao sabor das sondagens são bem diferentes, não achas?

16 de agosto de 2004 às 14:48  
Blogger forass said...

A política e os meios de comunicação; o poder de mãos dadas, sempre adorei este cenário idílico!
Quero lá saber qual vai ser o novo presidente do PS, pá! Eles que são pretos que se intendam! Verdade seja dita, eu gosto muito daquele tipo... é pá, o gajo que costuma ir aos comícios, é pá como é que se chama?... é aquele tipo que a filha dele tem um café ali ao pé da... é pá como é que se chama a rua?...

16 de agosto de 2004 às 14:52  
Anonymous Anónimo said...

É a rua da rata ao sol...

o.n.p.

16 de agosto de 2004 às 17:09  
Blogger Asulado said...

Ò Pulha, o BE não promete mundos e fundos porque não tem qualquer programa de governo, tem um programa de oposição.
Populismo e demagogia é também emitir discursos com idéias sem aplicação prática.

16 de agosto de 2004 às 18:56  
Blogger CC said...

Dá-me um exemplo, Asulado.

16 de agosto de 2004 às 19:15  
Blogger Asulado said...

Queres que te cite todo 'O Capital'?
Ou também achas que aquilo é perfeitamente praticável, os soviéticos é que não tiveram engenho?

16 de agosto de 2004 às 20:56  
Blogger Alcabrozes said...

Lá está o asulado a misturar tudo! O que que é o marxismo tem a ver com isto tudo?
Pareces um gajo do Benfica sempre a utilizar o passado como argumentação para questões presentes. Gostava que me dissesses onde e quando os discursos do BE fizeram referências ao "Das Kapital", ou não é do BE que estamos a falar?
Ou será que tens um preconceito anti-comunista?

17 de agosto de 2004 às 10:26  
Blogger Asulado said...

Desculpa, pensei que a ideologia do BE fosse marxista.
Sendo assim, não sei qual é.

17 de agosto de 2004 às 11:16  
Blogger Alcabrozes said...

Se lutar pela justiça social, pela diminuição das desigualdades entre ricos e pobres (isto não significa espoliar os mais abastados dos seus bens!), promover a transparencia na política, lutar pela eficácia fiscal, combater as ideias neo-liberais acerca da gestão da saúde pública e da educação é ser marxista, então somos muito mais do que eu pensava!

o net pulha

17 de agosto de 2004 às 12:40  
Blogger Asulado said...

Se acreditas que as políticas marxistas proporcionam isso tudo, então contacta-me, que eu tenho umas acções do Mosteiro dos Jerónimos para vender.

17 de agosto de 2004 às 15:49  
Blogger Alcabrozes said...

Percebeste tudo ao contrário. Eu não disse que o marxismo defendia essas praxis, disse sim, que se ser marxista é defender as ditas, então sou e somos muitos!

17 de agosto de 2004 às 16:12  
Anonymous Anónimo said...

Mas, essa "luta pela justiça social, pela diminuição das desigualdades entre ricos e pobres, promover a transparencia na política, lutar pela eficácia fiscal, combater as ideias neo-liberais acerca da gestão da saúde pública e da educação" não é o que todos os partidos prometem? Lembram-se do Sr. Dr. Portas? Não era muito diferente o seu discurso do do BE. Portas, aquele populista...

18 de agosto de 2004 às 17:47  

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