crónica algarvia em finais de Outubro
Férias no Algarve pós-Verão. A capital, a sede do Turismo da nação. A sua bela praia. A ilha de Faro, no Parque Natural da Ria Formosa, coberta de lixo: sacos de plástico, latas de bebidas, garrafas, pensos higiénicos, pedaços de madeira, fragmentos de azulejos, pregos, embalagens de medicamentos, caixas partidas, vidros, desodorizantes baratos, pneus, bidons, alcatrão, cocó (de cão?), brinquedos estragados, lenços de papel. Que belo Parque Natural. Que maravilha de Autarquia, que tão bem cuida do seu território.
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Também em Vale do Lobo, em Almancil, concelho de Loulé, há lixo nas praias de Outubro, mas menos. E diferente. Sim, porque Vale do Lobo é um mimo: uma praia de mar, de areia branca, detentora de bandeira azul, com temperatura média da água no Verão de 22 graus, vigiada pela Capitania, sinalizada, com nadadores-salvadores, equipada com aluguer de guarda-sóis e cadeiras, enquadrada por um restaurante e café. «Esta praia é internacionalmente conhecida e uma das mais procuradas pelo turista exigente que aprecia o requinte e a qualidade do meio envolvente.
Em Vale do Lobo, a poucos passos da luxuosa habitação ou hotel, o turista tem ao seu dispor uma vasta oferta desportiva e de lazer caracterizada pela diversidade, salientando-se a prática do golfe, ténis e desportos náuticos, ou a quietude de um passeio por entre pinheiros e espaços ajardinados bem cuidados».
Os estrangeiros ricos poluem menos, são pessoas mais civilizadas e gostam de preservar o seu espaço. Mesmo o pouco lixo que há na praia de Vale do Lobo tem outra classe: as garrafas de água são da Evian (água mineral dos Alpes franceses), os frascos de perfumes da Chanel (oh, Nicole!), os pedaços de madeira são apenas de nogueira, os pneus slick, os sacos de plástico têm cores pastel, suavezinhas, os vidros são antigos, grossos e opacos, os pensos higiénicos exibem delicadas texturas e os brinquedos nem se encontram à venda no Toys R Us.
Algarve: as belas construções do mais puro cimento, edificadas em cima das dunas, ao longo de toda a costa, expressando cada uma delas a excelência da arquitectura portuguesa, a diversidade das suas correntes e conceitos estéticos; a rica sensibilidade pato-bravística e o rigor e contenção dos autarcas algarvios; a interminável betonização do património paisagístico, natural e cultural, através dos "equipamentos hoteleiros de grande qualidade"; o ordenamento urbano em nada inferior aos subúrbios das megacidades da América Latina.
O Algarve com a bonita e gratuita Via do Infante (era só o que faltava, esta gente pagar portagens, como as bestas de Lisboa...); com a nossa Secretaria de Estado do Turismo (e quem mais que o ALgarve precisa de apoio ao turismo?); com o seu imponente estádio de futebol de 66.511.456 €uros (13.334.349.720$00), que serve clubes com a dimensão e o estatuto de um Olhanense (da Liga de Honra), um Louletano ou um Farense (ambos II Divisão B), e onde a assistência média por jogo ronda os 2.500 espectadores.
Mas, para além do sol, do calor e de algumas praias (quando limpas), produtos típicos do Algarve (e que bem que os algarvios produzem sol e bom tempo!), há vida naquele enclave comercial britânico: a magnífica LIVRARIA SIMÕES, em Faro, onde os livros ainda são tratados como livros, e não como uma mercadoria qualquer (à semelhança do que se passa nos supermercados, mas não só). O Sr. Carlos Simões, livreiro há mais de 20 anos, sabe de que são feitos os livros, dos mundos que cada um deles transportam. Recusa best-sellers, se os best-sellers nada mais têm dentro do que uma margem de lucro. Quando o Código da Vinci saiu, o Sr. Simões pediu à Bertrand um único exemplar do livro, porque queria apresentá-lo aos leitores, na estante das novidades. A Bertrand não achou graça e acabou por não enviar nenhum. Quem perdeu? A Bertrand, que não aproveitou a honra de ter mais um livro seu na LIVRARIA SIMÕES.
Lixo deste nem no Parque Natural da Ria Formosa se encontra.
6 Comments:
Poderoso! Cruel e realista, a espaços algum exagero, confesso, mas fundamental para suscitar a chamada polémica!
o net pulha
Correcção: o Estádio Algarve não serve o Olhanense, senão teria uma assistência média superior a 2.500 espectadores.
Ai as bestas de Lisboa já pagam portagens no IC19? Grande novidade me dás!
Não, Asulado, no IC19 ainda não se paga. Mas na CREL sim.
As bestas de Lisboa? Tens razão! Estas bestas pagam por tudo! E ainda vão pagar mais!
o net pulha
Quanto à poluição nas praias não tenho vontade de comentar o vcivismo das pessoas. Também não vou voltar a comentar as portagens e a (in)coerência das medidas deste Governo. Vou só comentar a atitude do sr. Simões que, pelo seu quixotismo, vai morrer pobre de bens mas rico de espírito...
CC? EXCELENTE!!!
Com uma frase que ouvi à cerca de 2 anos na Armona, comento o lixo na Praias: O mar trás, o mar leva... Esta frase saiu da boca de um Algarvio.
Já o atendimento nos locais de comércio no Algarve daria para fazer uma posta de duas páginas.
Quando é que os Algarvios começam a fazer alguma coisa por a terra deles? Se mais ninguém ajuda, que é o que estão sempre a dizer, então ajudem-se a eles próprios! Mas acho que isso é um pouco complicado... tipo, ajudarem-se entre si. Dasse! Parem de se queixar!
Fazem tanta comparação com o Alentejo, mas acho que não há comparação possível. Quais são as riquezas naturais do Alentejo e quais são as grandes riquezas naturais do Algarve?
Só acho uma coisa, podias ter dados outros exemplos que não o estádio do Algarve. Deve ser das únicas coisas bem estudadas no nosso país. Um estádio distrital, que acaba por não ser, mas isso são trocos.
Em Lisboa é quantos estádios CC? É o futebol... a bola é redonda, são 22 jogares, etc, etc...
Este verão estive a passar férias na Luz (Lagos) e acho o que vai acontecer com o Algarve inteiro é o que lá encontrei. Aquele merda é dos Ingleses! Não consegui beber um café depois de jantar! Pura e simplesmente não consegui, aliás até consegui, mas daqueles que sabem a mofo! Impressionante!!!
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