14 de setembro de 2004

mais portugal profundo

O blog do portugal profundo continua a publicação de peças processuais constantes nos autos do processo da Casa Pia, o que faz «em nome do interesse nacional e da democracia, com o objectivo de suster as sistemáticas e variadas tentativas de golpe palaciano sobre a independência do poder judicial orquestradas pela rede pedófila de controlo do Estado». Estão editados extractos da acusação do Ministério Público, da autoria dos procuradores Cristina Faleiro, Paula Soares e João Guerra da 2ª Secção do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) do Distrito Judicial de Lisboa, bem como de depoimentos de testemunhas, extraídos dos autos de inquirição.
O processo tem julgamento marcado (conforme foi noticiado na comunicação social), encontrando-se todavia pendente o recurso do Ministério Público sobre a não-pronúncia de Paulo Pedroso (e Herman José e Francisco Alves) pela juíza de instrução Ana de Barros Queiroz Teixeira e Silva, cujo texto também se pode ler naquele blog.

A publicidade que entendo fazer às peças processuais que o portugal profundo tem publicado deve-se ao facto pouco ter lido na comunicação social sobre o conteúdo das mesmas.
Parecem-me reprováveis algumas das atitudes de alguns elementos do MP em todo este processo: o afã judicialista de alguns procuradores, os métodos pouco claros de manipulação da opinião pública, através das fugas a conta-gotas de informações do inquérito, e talvez a orquestração de meios para construir cenários de filme onde não exista mais que um fraco enredo. Mas a verdade (alguma da verdade) é que do lado da defesa praticou-se tudo isso e muito mais (e com mais e melhores meios): falsos sósias, comunicação social cor-de-rosa a chorar o sofrimento dos detidos e das suas famílias sem se referir à razão da sua detenção, encenação ridícula de louvores à liberdade em espaços de soberania, recurso a expedientes dilatórios, manipulação dos media para fazer desacreditar juizes e vítimas, publicação de material roubado, etc.
Este blog não é um espaço de jornalismo, nem eu sou jornalista, pelo que me reservo o direito de publicitar apenas um dos lados da realidade de comento. Ainda que não tenha opinião formada sobre os acusados ou outros envolvidos no caso Casa Pia - espero que a lenta justiça portuguesa cumpra o seu papel -, e seja irrelevante o que penso da culpabilidade dos ainda detidos, não partilho do entendimento de quem, como o meu amigo Miguel Marujo, quando refere, por exemplo (num comentário a um post destas Partículas) «as cassetes que implicaram de forma nojenta Ferro Rodrigues no caso». Eu não conheço o Ferro Rodrigues e, embora me aproxime politicamente dele (é das figuras do PS por quem tenho mais afinidade ideológica), nada sei da sua vida privada. Por isso, não sei se o Ferro Rodrigues, o Paulo Pedroso, o Herman José, o Carlos Cruz ou mesmo o Carlos Silvino praticaram alguma vez na sua vida actos sexuais com menores. Pela mesma razão, não sei se a sua "implicação" no caso Casa Pia é legítima ou não. O que sei é que conheço bem melhor os argumentos da defesa dos arguidos do que os factos da acusação. Talvez a culpa seja minha, por estar desatento à comunicação social ou por dar demasiada atenção às revistas e publicações menos "sérias". Mas - simplificando demasiado o problema - vejo como mais grave a violação das crianças do que a do segredo de justiça. Creio mesmo que o segredo de justiça se verga face a muitos outros interesses. Como, aliás, é a opinião do Ferro Rodrigues.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

É isso mesmo!
Alguma comunicação social continua a dar mais ênfase à vitimização dos arguidos esquecendo as verdadeiras vítimas, as crianças! Sim porque um rapaz ou uma rapariga de 14/15 anos ainda é uma criança! Mesmo quando nos tentam impingir argumentações mais ou menos poéticas de pendor nabokoviano!

o net pulha

14 de setembro de 2004 às 18:56  
Blogger CC said...

net pulha,
os crimes de que são acusados os arguidos no caso Casa Pia são, na sua esmagadora maioria, os previstos no artº 172º do Código Penal (Abuso sexual de menores), pelo que as vítimas têm necessariamente menos de 14 anos.

Quanto à «Lolita», do Nabokov, é uma história de amor entre um adulto e uma pré-adolescente: nada tem de semelhante com os actos constantes deste processo - em que os arguidos são acusados da prática de actos sexuais com crianças que nunca sequer tinham visto antes.

14 de setembro de 2004 às 21:14  
Blogger António Balbino Caldeira said...

O processo não é um jogo, nem nós devemos ser neutros. Cega e neutra tem de ser a justiça - e limpa!

Por isso, por pensarmos e existirmos para além do esquema mental em que o sistema nos envolve, temos a obrigação de mostrar o lado das vítimas e expor os elos para desfeitear a rede. Só por isso.

Obrigado por referir mais outro depoimento e por ter a coragem de defender o lado das vítimas.

15 de setembro de 2004 às 00:42  
Anonymous Anónimo said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

20 de setembro de 2004 às 19:29  

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