17 de junho de 2004

carta da clínica II

Querido amigo
Passei uma noite terrível! Com a complacência do corpo médico, os doentes internados resolvem festejar a vitória da selecção. A situação fica fora de controle: Portugal! Portugal! Portugal! Os gritos ecoam pelos corredores da clínica. Um compulsivo sopra ansiosamente uma buzina, dois esquizofrénicos grunhem a plenos pulmões, uma deprimida agita no ar um cachecol vermelho e verde onde de um lado se lê Força Portugal e do outro Viagra. Tento fugir para o quarto mas, quando dou por mim, já o cachecol me enlaça o pescoço:
- Que é isto? – grito desesperado.
- É da Dra. Silvia, é material de propaganda médica!
Mamas firmes, traseiro empinado, lábios húmidos - a deprimida é uma fémea em idade reprodutiva. O pânico!
- Largue-me! Largue-me!
Tarde demais! Quando finalmente consigo alcançar o quarto, encontro a porta escancarada. No interior, um toxico-dependente em regime de internamento, aproveitando a confusão, abre os frascos onde recolho as fezes e surripia-lhes o conteúdo. «Confundiu as caganitas mais secas com resina de canabis...», disse-me hoje a Dra. Sílvia.
- Doutora, quero alta, quero voltar para casa da mãe!
Ah! meu caro amigo, nem calcula pelo que estou a passar.
João Mendes Cruz (pessoalmente)

1 Comments:

Blogger Josefina said...

Caro CC:
As notícias de João são assustadoras. Alguém o tire de lá! Assediado, roubado, despojado dos seus muito próprios pertences e sem ninguém que lhe acuda. Deprimida? Essa fémea em idade reprodutiva ainda confunde o João com Prozac e sabe-se lá o que lhe faz, assim, de improviso!
Ai, pobrezinho do João!
Ah, Viva Portugal e as melhoras.

17 de junho de 2004 às 16:05  

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