24 de junho de 2004

120 euros

Rodava placidamente no IC 19, imitando a defesa do Benfica, entre o parado e o muito devagar, quando, na faixa ao lado, o condutor da viatura branca com os dizeres GNR me faz um sinal com o braço esquerdo, indicando-me a berma. Presumi que me convidava para parar estacionar imobilizar o meu carro veículo e foi o que fiz. O sr. agente da autoridade olhava para mim a pensar olha o cromo das Partículas Elementares armado em esperto. Já vai ver como elas lhe mordem!
Merda! Devia ter comprado uma daquelas bandeirinhas nos chineses!, pensei. Saio do carro (li em qualquer lado que se amansam as feras se nos mostrarmos receptivos a abandonar o nosso território) e o sr. guarda faz-me continência enquanto me diz educadamente bom dia. Bom dia. Bom dia, repete. Posso ver os seus documentos e os do carro? Mostro-lhe os documentos: o bilhete de identidade, o documento mais estúpido do mundo, a carta de condução, o título de registo de propriedade e o livrete. Está tudo em ordem. Inspecciona o selo do seguro. Está conforme. A seguir pergunta-me, como quem não quer a coisa, pode mostrar-me a isenção do uso do cinto de segurança? Não tenho. Não tenho. Hummm. Então vou ter de o autuar...
Era aqui que ele queria chegar. Pois se eu rodava perigosamente a 25 km/hora, pondo em risco a minha integridade física, senão mesmo a minha vida, e talvez as de outros, teria de ser multado. Está certo, penso. As leis são para se cumprir. Mesmo as mais absurdas. Não importa a calvície absoluta dos pneus do carro, o estado miserável dos travões, as manobras que eu possa fazer em ultrapassagens enervadas e sem sinalização, os estupefacientes que trago debaixo do assento, o cadáver do mau pagador escondido no porta-bagagens, os gramas de álcool no sangue das cervejas do pequeno-almoço. Tudo isto é irrelevante se eu não levo o cinto a estrangular-me e a sufocar-me de calor na manhã quente e abafada no trânsito congestionado do IC 19.
Jogará o Miguel ou o Paulo Ferreira?

5 Comments:

Blogger CC said...

E a vantagem de usar pneus e travões e caixa de velocidades e etc. em bom estado, que tem mais consequências para terceiros? Porque é que nunca se preocupam com isso?
A obrigação do uso do cinto de segurança, em especial dentro das localidades - que visa proteger o seu utilizador e mais ninguém - é uma norma paternal, que trata os condutores como gente estúpida. Mas, claro!, como é para nosso bem, e o Estado sabe o que melhor para nós...

24 de junho de 2004 às 12:44  
Blogger Santos Passos said...

Pena que - parece - não conhecias a história do motorista flagrado a andar sem cinto de segurança, como tu. Caso contrário, deverias tê-la utilizado:
O guarda aproxima-se, pede os documentos e informa que vai autuá-lo por não usar o cinto.
- Não tenho os documentos do veículo.
- Como não!?
- Acabei de roubá-lo.
- !?!
- E sei que não estão no porta-luvas pois guardei lá minha arma.
- !?!
- Se não me acreditas pode olhar ao porta-malas que lá está trancada a dona do carro. Tranquei-a lá.
O guarda afastou-se, perplexo, foi até junto ao comandante da patrulha, conversou com ele.
O comandante aproximou-se do motorista infrator:
- Seus documentos e os do veículo.
- Pois não. Cá estão. (mostrou-os prontamente)
- Abra, por favor, o porta-luvas.
(o porta-luvas é aberto e está vazio)
O comandante, cada vez mais atônito, determina:
- Agora, abra o porta-malas.
(o porta-malas é aberto e nada há de extraordinário nele)
O motorista, então, confidencia ao comandante:
- Seu subalterno, se calhar, deve também ter-lhe afirmado que eu não estava a usar o cinto de segurança...
Foi prontamente dispensado.

24 de junho de 2004 às 16:08  
Blogger josé said...

Ó CC, já deves estar a ser contagiado pelo João Cruz. Segundo ouvi dizer a sua persistente aerofagia impede-o de usar qualquer cinto, incluindo o de segurança.

24 de junho de 2004 às 17:45  
Blogger Tiago said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

25 de junho de 2004 às 02:02  
Blogger Tiago said...

CC, acredita que não é uma norma paternal. Sei pela experiencia propria que passou um familiar meu bastante chegado, que o cinto de segurança pode evitar muita chatice, para o próprio e para outros.

No caso do meu familiar, um acidente que podia não ter sido nada resultou em fracturas multíplas, passagem demorada pelo hospital, muitos dias de imobilização em casa, etc...

Poderás argumentar que isso só o prejudicou a ele próprio, mas não é verdade. Prejudicou-o a ele, prejudicou a familia, que teve de tomar conta dele enquanto esteve imobilizado durante mais de um mês em casa, e prejudicou muitas outras pessoas, por ser mais um a entupir as urgências dos nossos miseráveis hospitais, e a alargar o défice das contas do serviço nacional de saúde. Só por este último ponto a norma já não é paternalista, pois o que acontecer a um indíviduo pode afectar muitos outros que no mesmo momento precisem dos mesmos cuidados hospitalares (já para não falar no custo que é para a sociedade a perda de individuos válidos em mortes estúpidas na estrada, quando ainda podiam ser indíviduos produtivos para o bem de toda a mesma).

Tudo que relato podia ter sido evitado se o cinto tivesse impedido este meu familar de ser projectado contre o tabelier do carro depois de um toque por trás... porque apesar dele circular devagar, como referes, quem lhe bateu NÃO circulava devagr...

25 de junho de 2004 às 02:08  

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