30 de junho de 2004

achas para a fogueira

Com o meu portátil restabelecido, com acesso caseiro à internet, retomo a vida normal e, com ela, a minha participação na Terra da Alegria. Apesar disso, a edição de hoje mantém o interesse: o bem, o amor, o mal, sexo, sexo e sexo. Ah!, e óculos.

29 de junho de 2004

no pasarán!

HOJE, DIA 29, ÀS 19:00 HORAS, EM FRENTE AO PALÁCIO DE BELÉM.
SEREMOS AINDA MAIS CONTRA O GOLPE DE SANTANA LOPES.

28 de junho de 2004

o meu barbeiro

O meu barbeiro pergunta-me sempre como quero o cabelo. Curto?, diz ele, agora para o Verão? Não, não muito curto, basta acertar as pontas, respondo com cautela. Tudo isto é só para fazer conversa. Responda o que responder, saio de lá sempre com um corte igual. É claro que não arrisco a dizer Sim, muito curto, pois dou demasiada importância às palavras para as dizer trocadas. Mas já pedi curto e saí de lá como hoje: com o cabelo curto.
As conversas também se repetem. Invariavelmente finge surpreender-se com a quantidade dos meus cabelos brancos (já há dez anos que se surpreende), com o facto de eu estar ou já não estar a trabalhar no Alentejo, com o tempo que demoro no trânsito de e para o emprego, etc.
Ir ao barbeiro é, assim, uma ruptura na linearidade do tempo, uma suspensão do decurso da história, um revisitar dos mesmos momentos já vividos.
Como bom português, o meu barbeiro aderiu à febre da bandeirite e colou uma bandeira portuguesa de papel na montra, ao lado de uma caixa vazia de um aparelho qualquer da Panasonic e das embalagens de 4444, um creme vetusto mas muito eficaz contra as borbulhas e irritações cutâneas do pós-barbear. Quando estou virado para o espelho, envolto na bata que me imobiliza na cadeira, vejo um poster de um calendário de parede com uma moçoila abençoada pelo Criador. Pelo espelho vejo mais duas raparigas bem saudáveis, embora encaloradas, pelo menos a julgar pela pouca roupa que envergam, afixadas na parede oposta.
O mais curioso é que, precisamente ao lado de uma destas nossas irmãs, está exposta uma imagem de um Sagrado Coração de Jesus, um daqueles posters que mostra um Jesus sofredor, com o coração chagado com uma coroa de espinhos, e de olhar triste e condoído. Mais dele do que de nós, parece-me. Mais acima, quase escondida pelo armário dos vários utensílios próprios de uma barbearia, está um calendário antigo, sublinhando um tempo que, por ter passado, faz inexoravelmente parte de nós, com a imagem de Nossa Senhora de Fátima a velar por todo aquele espaço. Convivem, assim, nas paredes da barbearia o sagrado e o profano, numa expressão do mais radical catolicismo, do seu carácter universal, onde cabe o espírito e a carne.
É um grande conhecedor da natureza humana, o meu barbeiro.

26 de junho de 2004

carta enviada hoje a Jorge Sampaio

Senhor Presidente,
Eu não gostava que o meu país tivesse mais um Governo de que desconheço o Programa, com um primeiro-ministro não eleito, ao arrepio das mais elementares regras democráticas.
V. Exa. tem agora mais uma oportunidade de mostrar que o seu cargo tem uma utilidade real e não apenas simbólica ou decorativa.
Na verdade, vejo-o mais depressa ao lado da selecção nacional de futebol a dizer clichés do que a tomar alguma decisão política importante, algo para o qual foi eleito. Creio também que, até agora, em todos estes anos no exercício das sua funções, se estivesse no seu lugar o engº Ferreira do Amaral, não teria havido grande diferença. Mas ainda tenho alguma esperança.
Obrigado e boa decisão.
Carlos Cunha

É possível fazer o mesmo aqui.

pior que um primeiro-ministro eleito é um primeiro-ministro não eleito

25 de junho de 2004

elegance

O melhor jogador da famosa geração de Riade, Rui Costa, é também o mais elegante jogador português de sempre.

Ontem, pouco depois de entrar em campo, a 13 minutos do fim da partida, recebeu a bola no meio campo, acariciou-a, bailou campo fora quase sem tocar no chão, passou com graciosidade por entre vários ingleses, evitou educadamente um defesa adversário e rematou com determinação para a baliza do surpreendido guarda-redes.

Gosto desta poesia.


24 de junho de 2004

carta da clínica III

Querido amigo
Nestes últimos dias tenho vivido entre as quatro paredes do meu quarto, em reclusão. Chegam-me aos ouvidos os ecos distantes da guerra. Portugal contra o resto do mundo: Espanha, França, Inglaterra, Camarões... No domingo as fundações da clínica estremeceram - urros, buzinas, foguetes, apitos - deve ter havido uma batalha. Quando tudo acalmou fechei os olhos e dei um peido. Um peido solidário e patriótico. Viva Portugal! Estou certo que, na próxima sexta, vamos ganhar ao Brasil.
João Mendes Cruz (pessoalmente)

120 euros

Rodava placidamente no IC 19, imitando a defesa do Benfica, entre o parado e o muito devagar, quando, na faixa ao lado, o condutor da viatura branca com os dizeres GNR me faz um sinal com o braço esquerdo, indicando-me a berma. Presumi que me convidava para parar estacionar imobilizar o meu carro veículo e foi o que fiz. O sr. agente da autoridade olhava para mim a pensar olha o cromo das Partículas Elementares armado em esperto. Já vai ver como elas lhe mordem!
Merda! Devia ter comprado uma daquelas bandeirinhas nos chineses!, pensei. Saio do carro (li em qualquer lado que se amansam as feras se nos mostrarmos receptivos a abandonar o nosso território) e o sr. guarda faz-me continência enquanto me diz educadamente bom dia. Bom dia. Bom dia, repete. Posso ver os seus documentos e os do carro? Mostro-lhe os documentos: o bilhete de identidade, o documento mais estúpido do mundo, a carta de condução, o título de registo de propriedade e o livrete. Está tudo em ordem. Inspecciona o selo do seguro. Está conforme. A seguir pergunta-me, como quem não quer a coisa, pode mostrar-me a isenção do uso do cinto de segurança? Não tenho. Não tenho. Hummm. Então vou ter de o autuar...
Era aqui que ele queria chegar. Pois se eu rodava perigosamente a 25 km/hora, pondo em risco a minha integridade física, senão mesmo a minha vida, e talvez as de outros, teria de ser multado. Está certo, penso. As leis são para se cumprir. Mesmo as mais absurdas. Não importa a calvície absoluta dos pneus do carro, o estado miserável dos travões, as manobras que eu possa fazer em ultrapassagens enervadas e sem sinalização, os estupefacientes que trago debaixo do assento, o cadáver do mau pagador escondido no porta-bagagens, os gramas de álcool no sangue das cervejas do pequeno-almoço. Tudo isto é irrelevante se eu não levo o cinto a estrangular-me e a sufocar-me de calor na manhã quente e abafada no trânsito congestionado do IC 19.
Jogará o Miguel ou o Paulo Ferreira?

21 de junho de 2004

pequenos prazeres

É sempre um prazer ver um jogador do Benfica marcar um golo em Alvalade.

18 de junho de 2004

o pai pródigo

Deus permitiu que O abandonássemos. Paguemos-Lhe, então com a mesma moeda.

«but Jesus hurt me
When He deserted me / but
I have forgiven Jesus
for all the desire
He placed in me
when there’s nothing I can do with this desire
»
Morrissey, I Have Forgiven Jesus.

17 de junho de 2004

carta da clínica II

Querido amigo
Passei uma noite terrível! Com a complacência do corpo médico, os doentes internados resolvem festejar a vitória da selecção. A situação fica fora de controle: Portugal! Portugal! Portugal! Os gritos ecoam pelos corredores da clínica. Um compulsivo sopra ansiosamente uma buzina, dois esquizofrénicos grunhem a plenos pulmões, uma deprimida agita no ar um cachecol vermelho e verde onde de um lado se lê Força Portugal e do outro Viagra. Tento fugir para o quarto mas, quando dou por mim, já o cachecol me enlaça o pescoço:
- Que é isto? – grito desesperado.
- É da Dra. Silvia, é material de propaganda médica!
Mamas firmes, traseiro empinado, lábios húmidos - a deprimida é uma fémea em idade reprodutiva. O pânico!
- Largue-me! Largue-me!
Tarde demais! Quando finalmente consigo alcançar o quarto, encontro a porta escancarada. No interior, um toxico-dependente em regime de internamento, aproveitando a confusão, abre os frascos onde recolho as fezes e surripia-lhes o conteúdo. «Confundiu as caganitas mais secas com resina de canabis...», disse-me hoje a Dra. Sílvia.
- Doutora, quero alta, quero voltar para casa da mãe!
Ah! meu caro amigo, nem calcula pelo que estou a passar.
João Mendes Cruz (pessoalmente)

sabor livre

O novo ministro do desprezo pelas cidades e da destruição do património natural reanunciou a decisão do ministro da privatização da economia nacional em construir uma barragem no último rio selvagem da Península Ibérica, o rio Sabor, em Trás-Os-Montes. Esta região já detém a mais alta densidade de barragens da Europa, mas mantém ainda o rio Sabor, um afluente do Douro, livre de construções humanas ao longo dos seus 120 quilómetros de extensão, onde sobrevive ainda uma importante comunidade de flora e fauna únicas no país.
Mas isso não interessa muito. O “desenvolvimento” não pode parar a destruição dos recursos, do meio ambiente e da qualidade de vida. Ainda que contra o parecer do Instituto de Conservação da Natureza, que diz ser esta a pior alternativa em termos de impacto ambiental e de biodiversidade, não obstante a própria EDP dizer que a solução não é economicamente viável, apesar do facto da energia a ser produzida corresponder apenas a 0,6% da energia consumida em Portugal (ao que acresce o facto da energia produzida por barragens ser a mais cara de todas), contra o parecer científico de 350 investigadores, o Governo pretende construir uma barragem dentro do espaço que Portugal (nós mesmos) decidiu incluir na Rede Natura 2000 – e que deveria ser área non ædificandi.
Mas isso não interessa nada. Em nome de interesses ainda desconhecidos, vamos submergir cerca de 50% da extensão do rio Sabor, destruir o meio ambiente que o envolve e reduzir o excesso de biodiversidade daquela região.
Na Plataforma Sabor Livre, constituída por seis associações ambientalistas (Fapas, GEOTA, LPN, Olho Vivo, Quercus e SPEA) há mais informações e uma petição que é imperativo assinar.

16 de junho de 2004

Querido amigo

Quero, em primeiro lugar, agradecer-lhe a oportunidade que me dá de expor a todos o meu sofrimento e as injustiças que se abateram sobre mim.
Continuo compulsivamente internado nesta clínica e proibido de aceder ao dói-me. - Voltar ao blog está fora de questão - disse-me a Dra. Sílvia - o seu caso requer repouso absoluto. Detesto a Dra. Sílvia! É uma mulher experiente, já ultrapassou há muito a idade reprodutiva, assume as brancas e os pés de galinha sem complexos mas, mesmo assim, detesto-a! Diz que quer ajudar-me a deixar o Lexotan, conversa comigo todas as tardes, é ríspida por vezes: - João, já pensou em deitar fora todos esses frasquinhos?
Olho para os seiscentos e quarenta e sete frasquinhos que pousei nas prateleiras da estante do meu quarto e estremeço. Seiscentas e quarenta e sete caganitas meticulosamente recolhidas, analisadas e catalogadas todas as fezes, todo o trabalho de uma vida! Não, não estou preparado para deitar nada fora! Pergunto: estariam vocês, queridos amigos, preparados para deitar fora todos os posts que até hoje obraram? É infame o que se está a passar comigo! Ninguém pode ser impunemente obrigado a deitar borda fora o seu passado!
João Mendes Cruz (pessoalmente)

nota editorial

Este excelente blog deixa, a partir de hoje, a modorra em que se instalou desde que o seu autor, mentor, realizador, argumentista, produtor, actor, director de fotografia, técnico de som, etc., etc., se auto-expulsou do mais elegante e ascético porto da blogosfera - A Quinta Coluna - e, à semelhança da selecção de todos vós, prepara-se para trabalhar o melhor que sabe. Aqui temos jogadores mais motivados, no entanto. E que não precisam da ajuda da arbitragem para ganhar jogos. Adiante.
As Partículas Elementares têm a honra de anunciar a toda a blogolândia que, imbuídas da responsabilidade que têm em educar V. Exas. - os caros leitores que têm a felicidade de visitar este blog -, e sempre ao lado dos mais fracos e oprimidos, dos explorados e vítimas de todas as injustiças, dos incompreendidos, excluídos e internados, asseguraram a melhor contratação de todo o espaço blogosférico.
Porque demasiado consciente, com a lucidez dos deprimidos - esse fardo de que é impossível escapar, por instantes que seja -, João Mendes Cruz foi (pessoalmente) compulsivamente internado numa clínica psiquiátrica, encontrando-se assim impedido de aceder ao seu blog dói-me. Através de contactos secretos, uma rede clandestina adormecida foi reactivada com o propósito de trazer ao mundo livre o pensamento, as reflexões, preocupações e - principalmente - o estado clínico de João Mendes Cruz. Desta forma, as Partículas Elementares contribuem para o avanço do conhecimento médico-científico. As melhoras de todos vós.

mais Houellebecq

Em 1998 Michel Houellebecq publica o seu mais perturbador romance, pré-copiando o nome deste blog, «As Partículas Elementares» (publicado em Portugal pela Temas & Debates), tido por muitos críticos e leitores como o melhor romance dos anos 90 e o início do século XXI da literatura.
Romance com ideias, mais que mensagens ou respostas, «As Partículas Elementares» é uma obra corrosiva de onde nada sai incólume: as utopias pseudolibertárias que conduziram ao individualismo egoísta dos nossos dias, o vazio da cultura, da estética, da política, das relações sociais. Houellebecq constrói neste livro cenários nos quais a humanidade aparece despida, cruamente tratada e exposta em todas as suas contradições e hipocrisias. Dono de um texto límpido, cortante, directo, ignora os floreios e os barroquismos, e prima pelo choque frontal e impiedoso. É certo que, por vezes, o discurso científico, as descrições minuciosas e a exposição didáctica, inseridos na narrativa, dissecam as acções dos personagens, contextualizam ao exagero a historicidade da acção. Mas esses elementos textuais, aparentemente estranhos ao estilo romanesco, têm o efeito semelhante à decomposição de um cadáver - um espelho sarcástico.
«Uma vida humana pode ser descrita em dez palavras ou em dez mil, conforme se queira. A escola metafísica ou trágica, que se limita em última análise às datas de nascimento e de morte, classicamente inscritas na lápide funerária, é recomendável por ser extremamente breve. No caso de Martin Ceccaldi será oportuno mencionar uma dimensão histórica e social menos centrada sobre as características pessoais do indivíduo do que sobre a evolução da sociedade, da qual ele é um elemento sintomático. Arrastados pela evolução geral da sociedade a que pertencem, e nela participando de bom grado, os indivíduos sintomáticos têm de forma geral uma existência simples e feliz».
(...)
«Os filhos representavam a transmissão de uma condição, de regras e de um património. Era evidente o que acontecia nas classes feudais, mais igualmente com os comerciantes, camponeses, artesãos, de forma geral com todos os grupos da sociedade. Hoje, nada disso existe. As pessoas são assalariadas, locatárias, não têm nada para deixar aos filhos. Não têm nada para lhes ensinar, nem sequer sabem o que eles poderão vir a fazer; as regras que conheceram não serão de todo aplicáveis a eles, porque eles viverão num mundo completamente diferente. Aceitar a ideologia da mudança permanente significa aceitar que a vida de um homem está reduzida estritamente à existência individual e que as gerações passadas e futuras não têm, aos seus olhos, nenhuma importância. É assim que nós vivemos, e ter um filho, hoje, para um homem, já não faz qualquer sentido».

Houellebecq


O meu amigo GS, emigrado no Brasil, enviou-me o primeiro romance de Michel Houellebecq, «Extensão do Domínio da Luta», cuja edição em língua portuguesa apenas se encontra publicada no além-mar, a cargo da Editora Sulina. Estranho e não compreendo a apatia das editoras portuguesas em relação a esta primeira obra do autor do extraordinário livro «As Partículas Elementares» e do premonitório «Plataforma».
Houellebecq escreve com a lucidez dos depressivos, que - nas palavras do próprio - não é outra coisa que «um desinvestimento radical em relação às preocupações dos outros humanos (que) se manifesta, em primeiro lugar, em relação às questões efectivamente pouco interessantes. Assim, talvez até se possa imaginar um depressivo apaixonado, enquanto um depressivo patriota é uma coisa que parece francamente difícil de imaginar». Esta distância face aos comportamentos dos seus semelhantes proporciona ao autor um olhar frio, quase clínico, mas repleto de humor e de compreensão pela tragédia da existência humana. E, em consequência, expande a liberdade de pensamento e reflexão crítica até aos limites da imaginação.



Em «Extensão do Domínio da Luta» Houellebecq descreve «a queda de um homem, sem pieguice, sem melodrama e sem morbidez. Esse homem encarna o indivíduo actual, mas a especificidade, bem narrada, faz dele, ainda assim, um caso concreto», como se lê na contracapa, num texto de Juremir Machado da Silva, crítico e tradutor brasileiro. «Aqui, a literatura encontra, outra vez, a profundidade da arte, conseguindo falar do mundo e do homem num mesmo e contudente discurso». É um romance de aprendizagem: «a aprendizagem do desgosto».
É isso que Michel Houellebecq traz à literatura contemporânea: além da rebeldia e provocação inteligentes, idéias e uma história. Uma história universal e humana, como a vida de cada um.

14 de junho de 2004

força Portugal


12 de junho de 2004

ah! ah! ah!

A partida começou com um jogador do Benfica de cada lado. Na 2ª parte, Portugal tira o seu. Do que é que estavam à espera? A selecção de todos vós continua ao seu nível, como nos tinha habituado nos jogos de preparação.
Dois fait-divers neste jogo: o primeiro jogo ganho pela Grécia num Europeu; pela primeira vez, o país organizador do torneio perde o jogo inaugural. Estamos todos de parabéns. Parabéns também ao Fyssas. Pela vitória e pelo 31º aniversário.

10 de junho de 2004

até amanhã

Lino de Carvalho foi o deputado que ajudei a eleger nas últimas legislativas. Votei no círculo eleitoral de Évora e, pela primeira vez na vida, votei "útil": na CDU.
Era membro do Comité Central do PCP, de que era militante desde 1969, deputado e Vice-Presidente da Assembleia da República. Participou activamente na luta estudantil e da oposição democrática nos anos finais do fascismo, teve destacada intervenção no processo da reforma agrária e da sua defesa, tendo sido membro do Secretariado das UCP/Cooperativas agrícolas.
Lino de Carvalho morreu hoje. Até sempre, camarada.

9 de junho de 2004

a memória não se remove assim

Morreu o meu antigo professor Sousa Franco, homem digno, sério, honesto, íntegro e que não se vendia nem se vergava às modas ou aos interesses do momento. Morreu num combate político onde foi alvo da mais ordinária campanha eleitoral que Portugal já viu.
No dizer de outros, ainda na passada semana, Sousa Franco era o «pai, a mãe, o gato e periquito do défice» (Paulo Portas, PP), não passava de «um senhor careca com óculos esquisitos» (João Almeida, PP), ou «um homem sem categoria e não é por lhe faltar alguma coisa em termos físicos» (Ana Manso, PSD). Agora eles mesmos, hipócritas, decidiram cancelar todas as acções que estavam previstas até ao final da campanha, para as eleições do próximo domingo: estão «consternados» com o falecimento deste homem sem carácter, diz o porta-voz do PSD. «É um momento de dor para o país» a morte do periquito careca de óculos esquisitos, diz o porta-voz do PP.
O Acidental, por «lamentar a morte trágica do Professor Sousa Franco e respeitar a sua memória» removeu «todos os textos a ele referentes. Escritos num quadro de combate político, mas sem violar as regras da ética e da boa-educação, os postes deixaram de fazer qualquer sentido neste momento».
A cobardia é uma coisa muito bonita.

na madrugada

Chegou uma nova Terra da Alegria. Deus, Igreja, álcool, futebol e sexo - tudo na edição de hoje.

8 de junho de 2004

grupo A

A quatro dias do início do maior e mais importante acontecimento social, político, económico e cultural que há memória em Portugal (depois do Rock In Rio), deixo aqui os meus votos para os resultados do grupo A:
1) que a Espanha vença três jogos;

2) que a Rússia ganhe dois jogos;

3) que a Grécia vença um jogo;

4) que a Selecção Portuguesa não desiluda nem comprometa ou, como se diz em futebolês, que seja igual a si própria.

depressed morning blog

Como já devem ter percebido os leitores mais atentos (desde os tempos d'A Quinta Coluna), a minha sanidade mental deixa algo a desejar. Consciente do facto, resolvo explorar as profundezas da minha psique com ajuda profissional. Telefono para um psicólogo com o objectivo de marcar sessões de terapia que me ajudem a melhorar o conteúdo dos posts que escrevo. Atende uma voz feminina que diz qualquer coisa como «cabeleireiro, bom dia!».
Fico perplexo e desligo. Se isto é um sinal divino (como se sabe, Deus entretém-se a espalhar sinais aleatórios para melhorarmos o rumo da nossa vida, como artefactos num role playing game), significa que a divindade não é como eu sempre a concebi, mas que têm razão os imbecis adeptos da patetice new-age: para mudarmos o nosso interior, superarmos as nossas angústias e respondermos às inquietações espirituais, basta afinal mudar o penteado ou fazer qualquer outra futilidade egoísta do género.
Eu, que sempre embirrei com as tontices fascistas da astrologia kármica, e todo o palavreado esotérico-místico-holístico-gasoso, a consciência transpessoal, o auto-conhecimento regressivo, os universos alternativos, o tarot, os anjos (os anjos!, meu Deus), os chakras, o reiki, o feng shui, as corzinhas, os cheirinhos, e restante mercadoria - e embirro tanto que até os pobres dos budistas levam, injustamente, por tabela -, vejo-me obrigado a repensar o meu lugar no mundo.
Qual será o meu signo, MF? Toupeira?

5 de junho de 2004

fome de bola

ONU ACUSA PORTUGAL DE FALHAR COMPROMISSO DE AUXÍLIO A PAÍSES POBRES

A coordenadora do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), Evelyne Herfkens, acusou hoje Portugal de faltar ao compromisso assumido em 2000 de ajudar os países mais pobres.
Segundo Evelyne Herfkens, Portugal não honrou o compromisso de contribuir com 0,7 por cento da riqueza produzida para ajudar os países mais pobres (...) Segundo a responsável, a maioria dos países que assumiram em 2000 o compromisso de contribuir para este combate com uma percentagem do seu Produto Interno Bruto «cortaram o seu apoio aos países pobres».
Herfkens apelou, por isso, aos mais jovem para fazerem pressão sobre os seus líderes para que os compromissos sejam cumpridos. «Esta é a primeira geração que pode acabar com a pobreza, falta apenas vontade política», argumentou.
Para exemplificar as assimetrias entre os países pobres e ricos, Evelyne Herfkens afirmou que «o que se gasta na Europa em bonecas Barbie daria para garantir a educação de todas as crianças de África».
Insistindo na crítica aos países mais ricos, a responsável da ONU afirmou que, graças à Política Europeia Comum, os mercados dos países mais pobres de África são inundados com o excesso da produção agrícola europeia, o que «destrói os seus mercados».
(notícia completa no Público, via porque morremos, senhor?)

e depois do adeus?

Faltam 30 dias para acabar o Euro 2004.

4 de junho de 2004

errate

Onde se lê «errate» deve ler-se «errata».

15 anos

Começou no dia 15 de Abril.


Acabou no dia 4 de Junho.

3 de junho de 2004

um homem, um voto

Devo ser o cidadão mais estúpido do país. Quando todos pensam no próximo fim-de-semana prolongado, no sol, na praia, no descanso, na fuga por uns momentos à triste realidade nacional, à retoma que não chega, ao enjôo à volta do Euro 2004, que ainda nem sequer começou, à campanha eleitoral mais imbecil e ordinária desde sempre, eu procuro o cartão de eleitor e preparo-me para fazer 350 quilómetros com um único propósito: votar.
Serei dos poucos que se darão a esse incómodo, mas irei votar. Neste candidato:

2 de junho de 2004

hoje é quarta-feira

E por isso Terra está no ar, cheia de novas beatices para todos vós: o Rui Almeida lembra a ousadia da oração; o Miguel Marujo reflecte, já fora da moda mediática, sobre o aborto (perdão, a interrupção voluntária da gravidez); o Fernando Macedo, qual Chomsky do Norte, espreita e lê o casamento real dos vizinhos; o camarada Timshel, ciente que transforma a realidade ao observá-la, perora sobre o divórcio; o José, sempre ecuménico, reposta um texto sobre a alegria da convivência com hereges, infiéis e pagãos. Eu escrevi qualquer coisa sobre o lado negro da natureza humana, de como nos odiamos uns aos outros, enfim, sobre o pecado original da nossa condição que teimamos em não querer ver.

1 de junho de 2004

o barbeiro

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